Concurso de Ideias para a Rua Nova do Carvalho - 2º lugar

Com Luca Martinucci e Filipe Alves Portugal / 2012

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O Cais do Sodré, cuja malha urbana se integra na Baixa Pombalina, constitui-se no séc. XIX como uma porta utilitária e de traseiras da cidade. A Rua Nova do Carvalho, lugar de uma riquíssima intriga espacial, traseiras das próprias traseiras, desenvolveu então, por inegável vocação, as apetências para lugar de sombra e do mundano, que até hoje soube manter. Mas o que é hoje a Rua Nova do Carvalho senão o Pombalino violentamente apropriado, sem nunca descaracterizar os padrões estruturais e a qualidade urbanística que perdura na Baixa? Coloca-se hoje, por ocasião do presente concurso, a questão delicada de como intervir neste lugar: Interessa-nos introduzir nesta ocasião uma marca de um momento? Intervir nas fachadas ou alterar esquemas de iluminação? Introduzir mobiliário urbano de desenho contemporâneo? Impor uma qualquer estética adicional, uma qualquer sofisticação artificial?... Interessa-nos uniformizar o conjunto quando a sua diversidade é precisamente a sua mais estimulante condição? A resposta que damos é claramente não. A narrativa espacial do lugar está historicamente encontrada, o seu charme e qualidade estão presentes. A Rua Nova do Carvalho necessita de ajustes, operações pontuais, económicas e imediatas, que melhorem e dignifiquem o seu uso. E é precisamente esse o princípio da nossa proposta, que dividimos em dois momentos: o seu chão e o seu tecto. E como? Através da reafirmação do sentido tradicional de rua, do redesenho dos seus limites, do seu nivelamento com o passeio e da sua materialidade, aceitando a sua apropriação livre e heterogénea por cada um dos espaços comerciais. E através da implementação de um “tecto”, contínuo a toda a rua, uma teia unificadora em cabos de aço que se constitui como uma estrutura de suspensão para intervenções de carácter lúdico ou de arte urbana. Ao nível do pavimento e ao nível superior não propomos forma, nem desenho. Propomos infra-estruturas, válidas por si como elementos plásticos, mas sobretudo como plataformas de intervenção no espaço urbano, como estruturas receptoras das mais diversas apropriações. As soluções construtivas propostas são simples, de rápida execução e projectadas com uma constante preocupação nos custos associados, quer de implementação, quer de manutenção. No pavimento serão removidos os lancis existentes para posterior recolocação na posição definitiva, complementados sempre que necessário por elementos rampeados de acordo com os requisitos de acessibilidade. As novas áreas de passeio são colmatadas em calçada portuguesa idêntica à existente, e a rua, com largura constante de 3,5m recebe argamassa colorida com inertes de quartzo, sobre enchimento betuminoso até à cota do passeio. Elimina-se assim os degrau entre ambos, nivelando todo o pavimento e facilitando a sua ocupação pelas esplanadas. A teia superior, é executada com cabos de aço inox, e suspensa em vários pontos das fachadas. Abrangendo toda a extensão da rua à cota de 14m unifica-a superiormente entre a Travessa dos Remolhares e a Rua de São Paulo, passando, à semelhança da rede aérea dos Eléctricos, por cima da rua do Alecrim. Reforça-se assim, também à cota superior, o sentido de unidade da Rua Nova do Carvalho. Unidas por um mesmo princípio de flexibilidade de apropriação, mas autónomas enquanto estruturas, estes dois momentos evidenciam a delimitação clara de um possível faseamento na sua execução: numa primeira fase o pavimento, e numa segunda fase a teia superior. Num futuro, uma terceira fase de intervenção assente nos mesmos princípios poderá estender a intervenção a poente, ao longo da praça de São Paulo até à Ordem dos Arquitectos. Uma das principais inovações do Pombalino, que constitui um acontecimento raríssimo até ao século XVIII, é o planeamento da cidade assente, mais do que no estabelecimento de um desenho, na delineação da sua estrutura, do estabelecimento de uma ordem, e da regulamentação de um processo. A definição de regras claras confere ao Pombalino uma tal robustez que encerra em si a faculdade de aceitar intervenções e apropriações que gradualmente matizam a sua ordem, sem descaracterizar os seus padrões estruturais. Esta é a história da Rua Nova do Carvalho. Este é também, assim o entendemos, o seu Futuro. ARQUITECTURA: Atelier Helena Botelho Filipe Mónica com Luca Martinucci e Filipe Alves COORDENAÇÃO: Helena Botelho COLABORAÇÃO: João Veríssimo, Renato Franco, Tiago Pinto, Inês Nascimento IMAGENS DE ARQUITECTURA: 18:25 Empreiteiros Digitais FOTOGRAFIA: Jaime Vasconcelos CONSULTOR DE ARQUITECTURA PAISAGISTA: João Gomes da Silva CONSULTORA ARTÍSTICA: Ana Matos CONSULTOR DE CONCEPÇÃO DE ESPAÇOS EXPOSITIVOS: Álvaro Silva – Eurostand MEDIÇÃO: Dibato
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    O Cais do Sodré, cuja malha urbana se integra na Baixa Pombalina, constitui-se no séc. XIX como uma porta utilitária e de traseiras da cidade. A Rua Nova do Carvalho, lugar de uma riquíssima intriga espacial, traseiras das próprias traseiras, desenvolveu então, por inegável vocação, as apetências para lugar de sombra e do mundano, que até hoje soube manter. Mas o que é hoje a Rua Nova do Carvalho senão o Pombalino violentamente apropriado, sem nunca descaracterizar os padrões estruturais e a...

    Project details
    • Year 2012
    • Work started in 2012
    • Work finished in 2012
    • Status Unrealised proposals
    • Type Public Squares / Urban Furniture / Restoration of Works of Art / Restoration of façades
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